Projeto vai diagnosticar o saneamento básico da Costa de Dentro

Água do bairro é captada e tratada pelos moradores - Daniel Queiroz/ND

Pequena no tamanho, mas grande na consciência do desenvolvimento sustentável. Essa é a comunidade da Costa de Dentro, no Extremo Sul da Ilha, onde 184 famílias fazem a gestão da água captada no lençol freático. Sem rede coletora e muito menos uma ETE (Estação de Tratamento de Esgoto), a localidade foi contemplada com o projeto Escola de Verão, da Acesa (Associação Catarinense dos Engenheiros Sanitaristas e Ambientais), que tem o objetivo de diagnosticar o saneamento básico e desenvolver ações sustentáveis.

O funcionário público aposentado Eugênio Luiz Gonçalves, 58 anos, um dos integrantes do Coden (Conselho Comunitário da Costa de Dentro), pretende despertar a consciência ecológica entre os moradores. “Temos uma água de qualidade e queremos alternativas para que o nosso sistema sanitário não polua o lençol freático e nem a praia. O Coden faz a gestão da água com a desinfecção com cloro e cobra mensalmente R$ 30 por 15 m³. Em função disso, o Coden tem R$ 94 mil em caixa”, comentou.

A presidente da Acesa, engenheira sanitarista Thaianna Cardoso, informou que a maioria das 500 casas na comunidade tem tanque séptico e/ou sumidouro. O problema é que o lençol freático na região é “alto” e poderá ser contaminado. Em função disso, oito alunos universitários e dois professores (da Udesc, UFSC e UFCG – Universidade Federal de Campina Grande, Paraíba) estão conhecendo a região e desenvolvendo soluções.

Thaianna informou que a comunidade escolheu quatro temas que serão desenvolvidos em conjunto. “A Escola de Verão contribui para a formação acadêmica com oficinas práticas por meio do mapeamento e do diagnóstico da situação do saneamento básico da Costa de Dentro. Com a produção do relatório queremos despertar a consciência dos moradores e encaminhar sugestões de melhorias ao poder público”, disse. O projeto começou no dia 17 e segue até a próxima terça-feira (30) na Escola Desdobrada da Costa de Dentro.

Estudantes aproveitam para colocar em prática a teoria

O estudante Rodrigo Porto Santos, 21 anos, do curso de engenharia sanitária da Udesc de Ibirama, também está ampliando os conhecimentos nas oficinas e aulas práticas. O aluno da 8ª fase contou integrantes do projeto também coletaram lixo sólido na praia. “Já tinha estudado sobre compostagem, mas o tema ainda não estava claro na minha cabeça. A didática utilizada por um professor, que demonstrou as camadas de uma composteira, facilitou o aprendizado”, informou.

Os alunos estão abrigados na unidade escolar e recebem a alimentação do Coden. Normalmente, eles têm atividades nos três turnos e a comunidade também participa dos eventos noturnos. A estudante Mônica Fernandes, 25, explicou que o objetivo é proporcionar economia à comunidade. “Com a compostagem dos resíduos orgânicos, os moradores poderão aproveitar o produto final em pequenas hortas e, assim, evitam a poluição e a destruição da natureza”, disse.

Prefeitura reconhece possibilidade de implantação de sistemas sanitários alternativos

Para o superintendente de Saneamento e Habitação de Florianópolis, engenheiro Lucas Arruda, legalmente apenas a Casan pode explorar o sistema de abastecimento de água no município. Tecnicamente, o engenheiro lembrou que é viável a gestão do fornecimento, mas alguns cuidados devem ser observados. “Mais de 100 pequenas comunidades fazem a gestão da água em Florianópolis. A maior delas é Jurerê Internacional. Existe uma comissão na prefeitura que estuda essa situação pela preocupação com a qualidade da água, além de critérios administrativos e de protocolo”, afirmou.

Em relação às ações de saneamento básico, Arruda acredita que é viável a implantação de sistemas sanitários alternativos. “A Costa de Dentro é uma comunidade com pequena densidade demográfica em uma grande área e uma rede de coleta não compensaria o investimento. Assim, estamos desenvolvendo ações para um sistema alternativo com filtros, banheiros secos, além de outras propostas. Hoje, a prefeitura reconhece que sistemas sanitários alternativos podem ser bem aplicados, desde que a sua viabilidade seja comprovada tecnicamente”, ressaltou.

Os temas escolhidos pela comunidade

Levantamento das nascentes, indo aos locais após a identificação pelo geoprocessamento

Elaboração de um termo de referência para o saneamento descentralizado, que também é conhecido como ecológico, porque atua com filtros de raízes, de areia ou círculos de bananeiras

Módulo de compostagem comunitária, no estilo da revolução dos baldinhos

Mapeamento dos problemas de drenagens.

Fonte: ND Online.

O projeto escola de verão é realizado por integrantes da Associação Catarinense dos Engenheiros Sanitaristas e Ambientais - Daniel Queiroz/ND